Mounjaro é aprovada para perda de peso: veja os riscos e diferenças das "canetas emagrecedoras"
Novo medicamento, já disponível no Brasil, promete maior eficácia na redução de peso corporal. Especialistas alertam para riscos, uso desenfreado e custo elevado
As chamadas “canetas emagrecedoras”, medicamentos injetáveis originalmente indicados para o tratamento do diabetes tipo 2, vêm ganhando espaço como alternativa para quem busca perder peso. Entre os nomes mais conhecidos estão Ozempic, Victoza, Wegovy e, agora, Mounjaro (tirzepatida), recém-aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento da obesidade.
A autorização foi publicada nesta segunda-feira, 9, no Diário Oficial da União, ampliando a gama de fármacos aprovados para esse fim no País. Produzido pela farmacêutica Eli Lilly, o Mounjaro já estava sendo utilizado de forma off-label (quando o uso ocorre fora das indicações da bula) para emagrecimento. Agora, a a ser oficialmente prescrito para o tratamento da obesidade.
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Como funcionam as canetas para emagrecer
Esses medicamentos são aplicados por via subcutânea (na barriga, coxa ou braço), geralmente uma vez por semana, e atuam sobre hormônios produzidos no intestino, como o GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1), que ajuda a regular a saciedade e a glicose no sangue. Com o uso contínuo, o apetite diminui e o paciente tende a perder peso.
Até agora, as substâncias mais usadas nesse tipo de tratamento eram a liraglutida (presente no Saxenda e Victoza) e a semaglutida (presente no Ozempic e Wegovy). Agora, entra em cena a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, que tem se mostrado ainda mais eficaz na redução de peso.
Qual a diferença entre os medicamentos?
A tirzepatida, presente no Mounjaro, age de forma dupla: simula o GLP-1 e o GIP (polipeptídeo inibidor gástrico), dois hormônios que atuam sobre a insulina, o apetite e a saciedade. Com isso, os efeitos sobre a perda de peso e o controle da glicemia são potencializados. Já medicamentos como Ozempic e Wegovy atuam apenas sobre o GLP-1, responsável pela sensação de saciedade.
Segundo estudos publicados na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association), o uso da tirzepatida pode levar a uma perda de até 20% do peso corporal em um período de nove meses, tornando-se atualmente a substância mais eficaz no mercado.
Além disso, está em fase de testes uma nova substância chamada retatrutida, que simula a ação de três hormônios diferentes: o GLP-1; o GIP, que melhora a secreção de insulina após as refeições; e o GCG, que eleva os níveis de glicose no sangue. Os resultados preliminares indicam uma perda de peso ainda mais expressiva em comparação aos medicamentos atualmente disponíveis.
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Efeitos colaterais e riscos à saúde
Em entrevista ao O POVO, a endocrinologista Ana Paula Abreu, especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e professora universitária, explicou que, embora eficazes, esses medicamentos exigem cautela:
“Os principais efeitos colaterais são distúrbios gastrointestinais, como náuseas e diarreia; também pode ocorrer fadiga, reações no local da aplicação, hipersensibilidade e, em alguns casos, hipoglicemia — especialmente quando há associação com insulina”, destaca a médica.
A Anvisa contraindica o uso do Mounjaro para:
- Pessoas com hipersensibilidade aos componentes da fórmula
- Histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular da tireoide ou neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (NEM2)
- Uso concomitante com semaglutida ou com inibidores da DPP-4 (conhecidas como gliptinas)
- Mulheres grávidas ou amamentando
Custo e o ainda são desafios
O preço é uma das principais barreiras. Mesmo com descontos em farmácias, o tratamento mensal com o Mounjaro não sai por menos de R$ 1,8 mil. Devido a várias demandas, o medicamento tem enfrentado problemas de estoque esgotado.
Segundo o preço divulgado do laboratório Eli Lilly, o medicamento é comercializado em canetas com quatro doses, para uso semanal, nas concentrações de:
- 2,5 mg – preço médio: R$ 1.406,75
- 5 mg – preço médio: R$ 1.759,64
A endocrinologista Ana Paula Abreu acredita que a comercialização iniciou em um ritmo um pouco menor do que se esperava. "Apesar de ser um medicamento caro, sua chegada já trouxe um efeito comercial interessante: a diminuição do preço de outros medicamentos como Ozempic, Wegovy e Rybelsus, os quais também são excelentes e têm um papel fundamental no controle do peso e diabetes", nota ela.
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O alerta dos especialistas sobre uso desenfreado
A eficácia no emagrecimento rápido tem impulsionado uma procura crescente, inclusive por pessoas que não têm indicação clínica para uso. Para a médica endocrinologista, é necessário frear esse movimento:
“Certamente a excelente resposta do medicamento no controle do peso está por trás dessa procura meio desenfreada. Infelizmente, a questão estética tem um peso enorme na nossa sociedade e a possibilidade de perder peso, aparentemente sem grandes esforços, é muito atrativa. O problema, como vimos, é que a medicação tem contra-indicações e riscos e, aquilo que à primeira vista surge como um grande atrativo, pode trazer sim problemas sérios.”
Para tentar conter o uso indiscriminado, a Anvisa prepara uma nova resolução que exigirá receita de controle especial com retenção da via, o que dificulta a compra sem prescrição médica.
“Acredito que a nova regulação ajudará a coibir o uso desenfreado e estimulará as pessoas a buscarem orientação profissional. O Mounjaro é uma excelente ferramenta no controle do diabetes e do peso, mas deve ser usada com responsabilidade", avalia a endocrinologista. "E a torcida fica para que seu custo se torne mais ível para que possamos utilizá-los naqueles que mais se beneficiarão”.